sexta-feira, 8 de abril de 2011

Afinal, por quê o século XX foi tão conturbado?



Na contemporaneidade, ao observarmos o comportamento social dos indivíduos, é comum vermos uma tendência acentuada das pessoas para a busca de um objetivo de vida. Não se trata apenas de traçar uma meta de vida e segui-la com paciência, resignação e cuidado, trata-se da busca por isso e muito mais. O ser humano ao longo das últimas décadas tornou-se tão global e diverso, que as mudanças lentas e pouco diversas ao qual o cérebro humano até então estava acostumado passou a funcionar em um ritmo muito mais veloz.

Em tempos antigos, um processo de mudança política, social e econômica levava o tempo de uma ou mais vidas, de modo que muitos indivíduos sequer notavam a existência de um processo, relacionando-o com o tempo e o espaço. Ademais, torna-se ainda muito mais complicado designarmos tais pessoas como um indivíduo coletivo e consciente. Até meados do século XIX, em muitas cidades de estados considerados culturalmente proeminentes como a França ou Inglaterra, havia núcleos populacionais que, separados pelo espaço, pouco ou nulo se comunicavam ou sentiam tal necessidade. Tal fato em muitos casos era observado até mesmo entre diferentes bairros de uma mesma cidade, até mesmo Paris do início do século retrasado. Havia uma gama de universos paralelos numa mesma cidade ou país. É possível que a noção de que algo não está em seu devido lugar, analisando o quadro acima descrito com a mentalidade atual, tenha origens num evento em particular – a Revolução Francesa. No momento em que muitos se rebelavam contra o sistema, muitos não sabiam afinal o que faziam no sentido mais amplo das relações político-sociais. Em muitos casos, as pessoas se revoltavam porque passavam fome.

A noção de que é possível mudar e se reciclar em prol de uma causa e a idéia de que para o ser humano a mudança é condição da vida, se desenvolveu na sociedade européia ao longo do século XIX tendo como partida este evento político acima citado, tamanha a sua contundência histórica e tamanha as mudanças que proporcionaria na sociedade até então. Uma das obras literárias que melhor exprimem o pensamento do homem moderno que se desenvolvia em meados do século XIX é o clássico “O Fausto” do escritor alemão Johann Goethe. Nele, o autor compõe a narrativa de um homem das ciências que, desiludido com o conhecimento de sua época, faz um pacto com o demônio Mefistófeles, enchendo-o com aquilo que era o seu maior desejo, uma energia inspiradora de paixão pela técnica e pelo progresso. Conforme o contrato com o demônio, Fausto em troca, entrega-lhe a alma.

Tal obra traz em Fausto um arquétipo do ser humano. Basta uma decepção com o continuísmo da vida, para que um desejo sufocante de manipular a vida e acelerar o seu processo de mudança incendeie nossas mentes. A partir do momento em que nos tornamos mais suscetíveis às mudanças, nos tornamos uma grande “metamorfose ambulante”, num ritmo tal que hoje, não nos sentimos seguros se não mudamos. Estamos mergulhados numa grande paranóia em que a estabilidade representa a constante mudança e relacionamos a estagnação a um passado distante que deve ser esquecido. É munido desta mentalidade, que devemos analisar a História do século XX.

Em nenhum século de nossa História, observamos um período de tantas mudanças em um curto espaço de tempo. Fazer a História do século passado é muito mais do que enumerar fatos e analisa-los individualmente. Todos partem de um tronco só, de que o ser humano nasceu para mudar. Todo o sentido de mudança que o homem foi desenvolvendo ao longo do século XIX culminou com o quadro caótico do século XX.

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