quarta-feira, 4 de maio de 2011

Hassan bin Sabbah - O precursor de Bin Laden



É comum vermos nos meios de comunicação de massa referências ao saudita Osama Bin Laden (morto no último domingo pelas forças militares americanas) como o grande símbolo do terrorismo religioso transnacional. Uma ressonância particularmente curiosa é encontrada em narrativas históricas que dizem respeito a um "senhor do terror" que vivia recluso em montanhas com um grande séquito de fanáticos religiosos.

No século XI viveu nas montanhas do norte do Irã aquele considerado por muitos a grande inspiração da vida de Osama bin Laden, Hassan bin Sabbah Homairi (conhecido no "O Livro das Maravilhas" de Marco Polo como Aladino, o Velho da Montanha.

Sabbah nascera no seio de uma tradicional família iraniana de Qom, 156km à sudoeste de Teerã, o grande centro de propagação de uma vertente esotérica do próprio Islamismo, o chamado "Ismaelismo", crença que se afastava do Islã sunita e xiita, acrescentando na lista dos profetas sagrados de matriz abraâmica (Adão, Noé, Abrãao, Moisés, Jesus e Maomé) o profeta Ismael - citado não só no Alcorão como também no Gênesis bíblico, como sendo o primeiro filho de Abraão com sua segunda esposa, a serva egípcia Agar.

Tendo estudado em Cairo, Egito em 1079, adquirira conhecimentos aprofundados do Alcorão além de textos do Antigo e Novo Testamento bem como escritos Vedas hindus (textos estes espalhados pelo Egito e Oriente Médio após as invasões de Alexandre o Grande, no século IV a.C.). Hassan unificou todos estes conhecimentos e adaptou-os ao Zoroastrismo - crença religiosa enraizada nas populações dos planaltos da Pérsia desde o século VII a.C.

Ao regressar para o Irã, passou a propagar a integração de todas aquelas crenças numa única doutrina, inquietando as autoridades locais. Na época, o Irã passava por um período de dominação dos turcos seljúcidas, adeptos da ortodoxia islâmica sunita e que já perseguia a vertente islâmica xiita, preferência iraniana de longa data.

Expulso do território iraniano, inicia andanças por todo o Oriente Médio, adquirindo um séquito importante em faixas territoriais que iam da Síria à região montanhosa ao sul do Mar Cáspio. Fixa-se nas regiões da Cordilheira de Elbruz, escondido em um vasto território de planaltos de difícil acesso, com montanhas que ultrapassavam os 5.000 metros de altitude, como o mais alto daquela região, o pico Demavend com exatos 5.655m do nível do mar.

Em 1090, com apoio de seus seguidores, promove a conquista da fortaleza de Alamut que significa "Ninho da águia" em persa. Alamut é uma fortaleza inexpugnável localizada no pico de uma montanha de 2.100 metros de altura construída aproximadamente no ano de 602 da era cristã para servir de refúgio ao líder Wahsudan, da província iraniana do Dailam. Da fortaleza do Alamut, Hassan bin Sabbah orquestrou a organização de uma seita apelidada de "Assassinos". As origens da empregabilidade do termo "Assassinos" é ainda fonte de muitas especulações. O termo derivaria do árabe "Hashishin" (usuários da erva "hashish" ou "haxixe"). Contudo, outras investigações concluem que Hassan bin Sabbah denominava o seu próprio grupo de "Asasiyun" que desginaria à pessoas que mantinham-se fiéis ao "Àsas" (que significa "fundação" em persa, fundação neste caso, uma referência ao próprio início de sua seita religiosa). A crença de que os "Assassinos" eram usuários de haxixe contudo, ainda mantém-se bastante popular entre vários historiadores. O termo "assassino" não só na língua portuguesa em outras línguas, é derivada da seita de Hassan bin Sabbah.

Não tardou para que aquele novo culto islâmico atraísse cada vez mais seguidores que passaram a organizar-se em três níveis hierárquicos, os iassek, (a grande massa de fiéis), os mujib - fiéis mais dedicados ao culto e por fim os fedayin que se sacrificavam em nome da fé. Muitas das informações vindas do grupo, até mesmo pelas dificuldades de comunicação existentes uma vez que estavam baseados em uma região extremamente isolada, são em sua maior parte, oriundas de fontes orais. Abundavam, por exemplo, relatos referentes às táticas usadas para induzir novos fiéis como a prática de ritos que levavam indivíduos à experiências em que eram convencidas sobre as "vantagens" da morte. Tais ritos envolviam o uso de substâncias psicotrópicas ou experiências sexuais com mulheres virgens. As várias paisagens e jardins naturais dos vales que rodeavam a fortaleza de Alamut, eram utilizadas como exemplos de "realidades metafísicas" que seriam presenteadas aos seguidores que obedecessem as ordens do líder Hassan bin Sabbah. Muitos seguidores praticavam o suicídio caso o líder exigisse, como forma de provar obediência e fé, pois o paraíso era assegurado àquele que fosse fiel às causas da seita - o que poderia incluir ordens para que seus fiéis partissem em missões cujo objetivo era o de matar figuras proeminêntes do clero e realeza espalhados por todo o Oriente Médio.

Emires, governantes de cidades, comandantes e clérigos de toda a região passaram a se preocupar com sua segurança e a utilizar armaduras em metal no seu dia-a-dia temendo ser vítima de atentados realizados com adagas ou espadas. Os assassinos apunhalavam suas vítimas geralmente pelas costas. Uma tática de intimidação bastante comum entre os assassinos era o de deixar um bilhete fixado com uma adaga na parede dos cômodos das vítimas, avisando-lhes da iminência de um atentado à suas vidas e quando menos se esperava, retornavam e executavam a vítima. Desta forma, a seita de Hassan passou rapidamente a ser conhecida como uma organização perigosíssima que recrutava assassinos políticos que durante um período considerável de tempo espalhou o terror e desconfiança em um Oriente Médio que também já sofria de invasões cristãs vindas da Europa, os Cruzados.

O Velho da Montanha - Imortal?

Após a conquista da fortaleza de Alamut, muitos seguidores da seita e o próprio Hassan bin Sabbah não tinham o costume de deixar o local. Era o esconderijo perfeito e poucos realmente conheciam a sua verdadeira localização.

Sabe-se que Hassan conquistara o Alamut com 56 anos de idade e estima-se que tenha vivido até os 90 anos de idade. A lenda de sua imortalidade surge porque possivelmente seus sucessores mantinham os mesmos costumes e práticas atribuídas à Hassan e como a notícia de suas mortes e sucessões raramente saíam dos limites da fortaleza, acreditava-se que "O Velho da Montanha" fosse imortal pois gerações após gerações ainda se ouvia falar do líder que se refugiava nas montanhas ao norte do Irã, em um corte cronológico que foge dos parâmetros de longevidade humana como o período de 1090 à 1256.

O fim da seita e a tomada de Alamut

O fim da misteriosa e perigosa organização é datada do século XIII quando uma onda de guerreiros mongóis avançam sobre a Ásia Central, tomando como base a cidade de Tábriz na Armênia. O imperador mongol Hulagu Khan liderou campanhas militares na maior parte do Oriente Médio e Ásia Menor, levando consigo a tomada de várias cidades e territórios o que incluiu a Fortaleza de Alamut em 1256. Era o fim de um reino de horror - que veio a encontrar curiosas ressonâncias no século XX e XXI com a Al Qaeda de Osama bin Laden.


Referências:

Bin Sabbah, o Homem que Inspirou Bin Laden (Marie Helène Parinaud) http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/bin_sabbah_o_homem_que_inspirou_bin_laden.html

Marco Polo: O Livro das Maravilhas Tradução de Elói Braga Júnior. Porto Alegre: L&PM, 2006.

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