quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A Crise do Contrato Social – À que circunstâncias estamos entregues nas “mãos” do Neoliberalismo econômico?

As discussões que procuram entender ou mesmo legitimar a atividade do Estado ou autoridade política partem de compreensíveis pressupostos que visam medir o impacto, geralmente incerto e negativo, de uma sociedade entregue à “organização da natureza” – que em escala humana, ou seja, racional, representariam um panorama de caos.

Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau são considerados os maiores pensadores do contratualismo. O pensamento de Hobbes, expresso no clássico de 1651 “Leviatã” (em clara referência ao Leviatã bíblico) sugere que a barbárie ou “Bellum omnium contra omnes” (guerra de todos contra todos) seria é um estado da natureza que só pode ser evitado por meio de um governo central e forte.

John Locke por sua vez, embora com idéias idênticas às de Hobbes no tocante à finalidade última da organização civil em seu clássico intitulado “O Segundo Tratado sobre governo civil” (1690) diverge no que diz respeito à forma como as sociedades devem se submeter a essa força externa maior, a relação entre este representante estatal e a sociedade deve ser mais fluida, justificável sua destituição em casos de abusos ou situações que retiram direitos naturais que, uma vez concedidos por Deus, são irrevogáveis – numa organização muito pautada no consentimento e confiança, numa relação organizacional que cubra o interesse coletivo, ou seja, o da estabilidade.
Jean-Jacques Rousseau traça em “O Contrato Social” (1762) uma análise que procura entender por que existe sociedade e por que o homem se priva da liberdade, concluindo que, no contrato social os bens são protegidos e as pessoas, unindo-se às outras, acabam por obedecer a si mesmas, conservando enfim a liberdade, que para Rousseau é um direito inalienável.

Margaret Thatcher – The Iron Maiden (A Dama de Ferro)

O mais duro golpe ao Contrato Social na História recente da Humanidade partiria, quem diria, de uma mulher, a “dama de ferro” Margaret Thatcher, primeira ministra britânica de 1979 a 1990. A política inglesa a partir dos anos 80, hora chamada de Thatcherismo, hora denominada explicitamente de uma renovada forma de Liberalismo econômico, o Neoliberalismo, despontara na Europa (puxando junto consigo a maioria dos países do Ocidente) uma doutrina econômica que, para muitos, foi vista como um murro no estômago. Novamente, a fé cega no mercado que ganha um aspecto quase que metafísico às relações econômicas humanas, levaria ao monetarismo como doutrina política, passando a exercer papel central na “regulamentação” da sociedade.

Mais do que uma guinada neoliberal, a doutrina Thatcher na Inglaterra passaria até mesmo a ser vista como autoritária. Especificidades a parte, o Neoliberalismo crescente da Europa, Estados Unidos e todo o seu mundo “satélite” ameaçam a estabilidade da convivência humana, pois fragmenta o Estado do bem-estar social entregando-o aos interesses obscuros e mais hedonistas que a animalidade humana é capaz de desenvolver na lógica do “Bellum omnium contra omnes” que o capitalismo é capaz de proporcionar.

O mundo esquizofrênico e “pós-industrial” atual possui uma série de exemplos de como o Neoliberalismo distorce a ordem social. Variados são os exemplos e debates que tentam identificar este processo e são fontes de inúmeras pesquisas, estas informações vão desde a busca pela resposta do porquê os índices de desemprego quadriplicaram em nível global nas últimas duas décadas a até questões como por que se vive num mundo de interesses cada vez mais inclinados à identidade sexual exacerbada, a violência extrema, a busca pela fama à todo custo, as corruptelas dentro das empresas (e no mundo da política também), o crescente endividamento e até mesmo o uso de entorpecentes se sobressaem sobre os interesses coletivos de subsistência responsável.

Todos estes dramas atuais podem ser resultados do enfraquecimento de uma autoridade central forte e de um contrato social que reconheça que ainda há muito ainda para que o nível de consciência social seja suficientemente forte para uma anarquia total.

A pergunta que não quer calar, à que circunstâncias estamos entregues nas “mãos” invisíveis do Neoliberalismo econômico? A Crise econômica global dos subprimes em 2008 - que persiste sendo uma bola de neve interminável parece ainda não ter respondido com clareza a tais dúvidas.



Referência: MAZOWER, Mark. Continente sombrio: A Europa no século XX - cap. "A crise do contato social". Companhia das Letras, São Paulo: 1998.

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