domingo, 20 de maio de 2012

A questão do Golfo Pérsico

Recentemente o Mundo foi e ainda é abalado com os acontecimentos políticos em todo o Oriente Médio, nos episódios apelidados de “Primavera árabe”. Se analisarmos a história recente do Oriente Médio e suas oscilações e instabilidades decorrentes da economia do Petróleo, a economia que mudou a História do capitalismo no século XX podemos identificar um processo de erupções sociais, ora cooptadas, ora reprimidas desde o Neocolonialismo do XIX. Vemos por exemplo muito antes das revoltas populares ocorridas no Mundo árabe atual, as crises políticas no golfo pérsico. Em 1979, eclode no Irã a Revolução Islâmica liderada por uma figura messiânica, o Aiatolá Khomeini, importante representante do xiismo no país, segmento do Islamismo dominante entre a população.


Embora as versões oficiais relatem a Revolução Islâmica como um fenômeno de fé, foi acima de tudo uma revolução social travestida de devoção e fanatismo religioso. Os fatos demonstram que o movimento xiita foi cooptado pelos revoltosos como um símbolo de identidade nacional que uniu todo o povo iraniano contra o regime conservador e ocidentalizado do Xá Reza Pahlevi. Fenômeno semelhante pode ser identificado na ação de Antônio Conselheiro em Canudos, na polêmica passagem do Brasil monárquico para a República. Hoje vemos na ação de Conselheiro um potente movimento de resistência àquela República burguesa, onde a mudança foi realizada de cima para baixo e não o contrário.

O impacto gerado pelo “abalo sísmico” em Teerã não só preocupou a economia ocidental que temia mudanças significativas nos preços do Petróleo como também se acreditou na possibilidade desta revolução influenciar nações vizinhas, mergulhando o Oriente Médio num caldeirão de revoluções. De fato, houveram agentes iranianos infiltrados no Iraque para fomentar uma revolução xiita no país vizinho e ameaçar o poder do sunita Saddam Hussein. Mas os Estados Unidos identificaram na fúria de Hussein uma oportunidade de dar cabo em um movimento contrarrevolucionário.

A Guerra Irã-Iraque (1980-1988)

Embora Saddam tivesse motivos suficientes para declarar uma guerra contra o Irã, como por exemplo, os infiltrados iranianos que fomentavam a massa xiita e curda no Iraque para tirá-lo do poder, o ditador iraquiano declara o conflito reascendendo antigas disputas territoriais no Chat-Al-Arab (Costa dos árabes) que tem sido motivo de discussão desde a Mesopotâmia. Além do mais, a maior refinaria de petróleo do Irã encontra-se em Khorramshahr, bem próxima à fronteira com o Iraque.

A invasão do Iraque encontrou fortíssima resistência militar do governo dos aiatolás, recém-estabelecidos no poder. Em meio ao conflito e o nítido interesse estadunidense em apoiar Hussein contra os iranianos, foi observado um polêmico esquema de corrupção no segundo mandato de Ronald Reagan envolvendo o contrabando de armas para o Irã, no escândalo mais tarde conhecido como “Irã-Contras”. O objetivo da CIA na época era o de levantar fundos para outra manobra política na Nicarágua.

O conflito se seguiu por toda a década de 80, as ofensivas e baixas em ambos os lados, arrasou os dois países. O Conselho de Segurança da ONU se colocou como mediador e a negociação, que durou meses, pôs fim ao conflito em agosto de 88. A guerra diminuiu o ímpeto revolucionário no Irã e mais, assentou o governo teocrático no país, pois embora o fator religioso tivesse sido crucial, os setores liberais do Irã que apoiaram as massas contra o Xá perderam oportunidades de criar uma oposição, a guerra e o nacionalismo uniu o Irã de Khomeini.

Portanto vemos que a resistência à ocidentalização e aos desmandos no Oriente Médio não pode ser vista como um fenômeno isolado do novo século. É um processo que vem se estendendo ao longo do século XX.

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